quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Família animal,

Eu me sinto mal. Olho ao redor: todas as outras crianças não se acham crianças e também não se vestem como eu. Minhas roupas engomadas e a gravata bem passada; lancheira em mãos. Os outros? Calças jeans descoladas, tênis maneiros e mochilas tecnológicas ou coisa do tipo.
No canto eu e meu pêssego curtimos o recreio. É, se mais alguém for capaz de conviver comigo me surpreendo, normalmente é assim: eu e meu lanche numa das extremidades do pátio.
Minha mãe é engraçada. É a única mãe que trata alguém como eu como criança e que engoma minhas roupas e passa as gravatas. Além do mais, cada dia da semana ela manda uma merenda diferente. Ela é engraçada.
Sabe, seus vestidos são daqueles que vão até o pé, e minha irmã sempre está ao seu lado, puxando a barra.
Ela puxa, puxa e puxa, até chamar a atenção. Então mamãe a segura, e a balança no colo e ela sorri e mexe nos cabelos desgrenhados da mulher.
Atrás das duas, e à minha frente sempre que saímos, meus irmãos: John e Josh. Eles não são gêmeos e eu tenho uma forte teoria de que eles são adotados. Por mais estranha que eu seja, e que minha mãe seja e que minha irmã seja, eles superam. Combinam laranjado e azul e amarelo e rosa com sapatos sociais e sorriem para todos. São travessos com meu pai e estão sempre de castigo.
Meu pai se zanga com meus irmãos, castiga-os e desconta em mim. Tudo está errado. Sempre errado. Mas eu não acho. Na verdade: ele está errado.

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