sábado, 13 de novembro de 2010

Sem sinal.

Tenho medo de ser petulante, de morrer sozinha e perder meus amigos - que nem sei se tenho. Talvez eles já tenham ido e eu nem tenha me dado conta, talvez eu não me dê conta de nada.
Minha mãe dormiu e isso é sinal de que não vamos mais ao cinema, não vamos fazer nada. Há cinco dias que não saio daqui a não ser para ir ao colégio. Colégio... Colégio... Colégio me mata, me cansa. Gente falsa igual. Sorrisos falsos iguais e assuntos falsos do mesmo modo.
Eu devo estar passando por uma crise de identidade, ou coisa do gênero: nada me afeta, nada me surpreende: O mundo é uma coisa a parte, uma televisão ligada e eu só assisto, zapeando sem parar: procurando algo que preste e não me contentando. Nada presta.
Quer saber? Desligo a TV.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Máquina de clonagem, vulgo: MUNDO

Loira, olhos azuis e corpo desenhado. Sorriso com os dentes a mostra, todos eles brancos e impecavelmente retos. Roupas de última moda, seguindo tendências. Cílios estendidos, olhos contornados, bocas desenhadas, bochechas avermelhadas e imperfeições corrigidas.
- Ei, você!
- Eu?
- Eu? - várias exclamações em coro - Eu?
- Não, você aí: loira, olhos azuis, salto alto.
- Eu?
- Eu? - de nada adianta, todas olham: são iguais.
É uma ditadura, e sempre será assim, a única coisa são os cabelos lisos que podem ser ondulados e as bolsas pequenas que na próxima temporada serão sacos.
Eu quero renovar, raspar a cabeça e entrar em uma trupe de teatro, quero usar outras roupas, matar o cor-de-rosa. Quem sabe eu ande por aí com um nariz de palhaço - inovação - ou auto afirmação.
Mas... Se... Se eu tentar ser, ou melhor: não ser... Ser outra coisa e não ser o que todos são. Eu vou estar sendo o que alguém já é. O que alguém já teve a idéia. A originalidade acabou, tudo já foi experimentado e eu esperei, perdi minha chance.
- Ei, você! - alguém grita.
- Eu? - eu e mais várias garotas respondemos.
- Não, você aí: a loira, olhos azuis, salto alto.
- Eu? - Nós repetimos. E tudo continua igual, ninguém quer saber quem é quem, ninguém se importa. Clones influenciáveis. A Lady Gaga não faz nada que a Madonna já não tenha feito e a Miley não supera nenhuma Britney Spears. A vida é assim, você não vai ser melhor, você só é... Só é... Igual.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Divagância louca.

- Eu não gosto de gente.
- Você é gay?
- Eu não disse que não gosto de mulher, é uma coisa geral.
- Tem louco pra tudo... Gosta do que então?
- De música.
- E quem faz as músicas?
- Gosto de filmes também.
- E quem os faz?
- Mas eu não ligo. Eu gosto das coisas por si, e não por quem as fez, que as faz e quem as fará.
- Impossível.
- Eu quero fazer músicas e filmes.
- Porque?
- É muita hipocrisia eu só gostar de mim.
- Você gosta de você?
- Sim.
- Mas você não gosta de gente.
- Sim.
- E...
- Por isso hipocrisia, eu chego a me enganar.
- E porque fazer filmes?
- Não gosto de quem faz filmes, não gostaria de mim.
- Mas você não gosta de gente - em um plano geral - e gosta de você. Vai ser igual com os cineastas.
- Não.
- Como você sabe?
- Eu não sei. Mas eu quero fazer filmes.
- Faça.
- Não é fácil. Eu preciso de uma história.
- É, é verdade. Pensa em alguma?
- Não.
- Mas afinal, porque não gosta de quem faz os filmes?
- Também não gosto de quem faz as músicas.
- Sim, porque?
- Você gosta?
- Sim.
- Eles estragam as histórias originais, eles iludem, eles cortam, eles magoam, eles mentem.
- E você quer isso?
- Quero não gostar de gente. Em um plano geral.
- Faça filmes.
- Eu quero.
- Eu sei.
- É difícil, preciso de uma história.
- Eu lhe faço uma.
- Ela é boa?
- Muito.
- Que bom! É mais fácil de estragá-la.
- Porque estragá-la?
- Para ser igual aos outros, pra me odiar.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Benção.

O barquinho de papel flutuava no superfície de uma poça, esquecido.
- A chuva parou.
- Fique mais um pouco aqui.
- Mas mamãe... Eu quero fazer brincadeiras...
- Você pode pegar uma pneumonia.
- Não, eu posso brincar.
- Não filho, por favor...

Depois de uma segunda chuva, no mesmo mês, ninguém esquecera barquinho nenhum, eles nem ao menos foram feitos.
- Vou sair.
- Mas mamãe, está chovendo.
- É exatamente isso que eu preciso.
- Uma pneumonia?
- Não, lavar a alma.