quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Corredor 119,

Eu me perco nos labirínticos e estreitos corredores da biblioteca. As prateleiras altas e as escadinhas apoiadas nos cantos. As mesas vazias e as poltronas gastas. O silêncio.
Tudo isso me encanta.
Sabe, há muito tempo que os livros não são organizados: didáticos, literatura nacional, física, biologia e ficção; tudo junto.
Isso faz bem.
A bibliotecária, velha e sonolenta, não liga, ou não vê. Eu pego, devolvo, mexo e ela continua calada. E chego: sorrio. Eu saio: sorrio.
É bom imaginar o número de tesouros que há ali, naquele mundo de papel. Eu penso quantas são as histórias, e os assassinatos e os mistérios desvendados.
E os novos mundos, e os seres incríveis e as invenções mais bem boladas de todos os tempos, que, na real, ou não existem, ou ninguém dá valor.
Agora isso está na moda: não dar valor.
Eu sempre percebo isso quando vou à biblioteca. Vazia, vazia, vazia.
Eu gosto, é claro. Tenho a chance de desvendar tudo aquilo, de conhecer... Eu me realizo, me delicio a cada segundo. Pode parecer bobagem, mas melhor do que qualquer coisa é subir, pé ante pé, nos degraus instáveis e, em uma tentativa cega pegar o que estiver por ali.
Minha última descoberta foi um Atlas. Ah, eu devo ter gasto umas boas três horas com aquele livro grande de capa verde, e, quando dei por mim, ao meu redor, mais uns cinco.
- Esses, por favor. - Eu disse saindo.
Ela concordou e nem anotou, acho que há mais de ano só eu vou àquele lugar e desfruto daquelas coisas.
Um dia, no corredor 119 eu olhei pra trás e vi, todos aqueles caminhos. Eu imaginei quanta gente se perdera ali, algumas, quem sabe, jaziam entre as prateleiras 57 e 58, hipóteses...
Então eu dei meia volta, segui reto até à mesa de sempre e encontrei o globo. Eu queria conhecê-lo, não só ali, naquela esfera pequenina, mas, sem uma escala numérica, sabe? Ao vivo e a cores. Eu queria ver de perto o globo, e as histórias e os livros. E eu seria mais uma personagem daquela loucura que era. Que era a vida.


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