- Janet Loopkan, bom dia - a voz era mecênica e o discurso treinado.
- Alô, com quem eu falo?
- Janet Loopkan, bom dia.
- Janet, hm... daonde é?
- Qual é seu problema, senhor?
Um suspiro de alívio do outro lado da linha:
- Pois liguei para o número certo, já não sabia... Desliguei umas cinco vezes de constrangimento.
- Então era você... - Ela pensou, mas o que saiu de sua boca foram as palavras treinadas - e qual é seu problema, senhor?
- A minha mulher me largou.
- E posso saber por que, senhor?
- Por isso eu liguei, preciso desabafar...
- Sou toda à ouvidos.
- Tudo começou quando eu ainda era jovem... Sempre fui o mais atrasado do grupo. Todos já tinham beijado, menos eu. Todos arranjaram namoradas, menos eu. Todos frequentavam aqueles lugares mal-frequentados, menos eu. O mundo conspirava contra mim.
(Silêncio)
- Aí eu conheci a Raquel. A Raquel subiu meu nível, todo dia eu ia à casa dela, passava a noite lá. Imagine o que isso significava...Então, ela simplesmente decidiu engravidar, e me veio com a notícia...
- É, ela decidiu - foi um sussurro quase inaudível.
- Perdão?
- Prossiga.
- A mulher engravidou, queria casar... Casamos, ora pois. Não tinha outro jeito, moramos nos fundos da casa da mãe dela, a velha morreu, fomos pra casa da falecida - que Deus a tenha - Felipe, o nosso filho, decidiu que ia pros Estados Unidos, a gente nunca mais o viu... Esses dias, Raquel chegou em casa e eu estava num telefonema, ela quis se meter, dizer o que não devia, dei umas bofetadas na coitada...
- O que o senhor fez? - a telefonista já estava abismada, como era capaz, um homem assim, de reclamar por ser deixado?
- Era mercido, e, bem... ela não concordava... - Do outro lado da linha ouviam-se soluços.
- Calma senhor, o senhor quer continuar a conversar? - por mais que ela não concordasse, e sentisse náuseas a imaginar o velho, era seu trabalho, ela não podia simplesmente desligar e deixá-lo à deriva.
- Ela saiu - os soluços eram mais constantes, e agora o homem engasgava, ele dizia algo que ela não compreendia, distinguiu apenas algumas palavras - Eu... Jogar do prédio...
- Calma - a mulher disse, emputecida.
- Onde o senhor está?
- Em casa, eu acho...
- Que Rua é?
- Em frente ao barato e bom, o mercado, sabe?
Ela, rapidamente, solicitou uma linha móvel e foi até o mercado, chegando na frente ela desligou a linha, assustada com o que via.
Um homem, rindo e apontando pra sua cara. Como se já não fosse demais precisar ouvi-lo contar como foi que ele perdeu a vrgindade e depois bateu na mulher...
- Espere - ela gritou - Eu subo já lhe ajudar.
Passava os lances de escada pulando de três em três, até chegar ao quinto andar, a, porta - apesar das controvérsias que existiriam se isso fosse um clichê - não estava trancada, então não houve cena e os bombeiros não precisaram arrombar.
Ela apenas o viu, no parapeito, rindo, ou cantando...
O impulso a tomou, ela correu em sua direção.
Os braços voltados para ele. Lhe acertou em cheio as costas, ele caiu.
De cima era uma massa disforme, alguma coisa que nunca se desconfiaria que, um dia, foi um ser humano. De baixo, um pesadelo.
A mulher não fugiu, nem nada. Ficou ali. Lembrando de cada maldita história de vida que ela ouvira nos últimos 5 anos, só desgraça. E ela se sentiu uma pessoa de sorte. Não ligava aonde estava, pouco se importava de ir pra trás das grades, de carona num camburão...
Não mostra os textos pra mim e depois posta no blog pro mundo inteiro verr né dona Clarits :) AUSHUAHSUAHS. Very good your text my baby :) *-*
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