De fora, ninguém via a cena como relamente era.
De fora, aquele homem magoado, nada mais era que um bêbado. Julgamentos... Ele estar dentro de um bar, tomando sua vigésima quarta dose não quer dizer nada. Não depois de passar pelo que ele passou.
- José - ele dizia ao dono do bar - Me vê mais uma - e o velho, compadecido, completava o copinho.
Uns outros senhores jogavam sinuca, e ouviram a história do rapaz.
- A Viviane - ele dizia - era minha mulher... Sabem?! a gente morava junto, e um dia, e um dia... - ele soluçava - ela me largou - Apressado, Seu José completou mais uma vez, e o mal-amado virou.
- Mas porque? - um dos homens da mesa de sinuca perguntou, enquanto esperava sua vez. E fez sinal, pra que o cara atras do balcão deixasse umas cinco rodadas por sua conta.
- Um homem, um filho da puta... Fazia tempo, sabe?! Ela me enganava, dizia que ia à padaria, à casa da mãe dela. E uma vez, uma vez ela foi ao mercado... E não voltou.
O homem, já tendo afogado suas mágoas e secado suas lágrimas ia indo embora.
- Espere, espere - Seu José dizia, trazendo um cobertor e um travesseiro nas mãos.- Durma por aí.
Ele se acomodou numa mesa e colocou os sapatos sobre uma cadeira. Deitou e dormiu. Assim.
Ainda de madrugada ele se levantou. Dobrou o edredom e colocou sobre a mesa, junto com o travesseiro e um maço de notas que ele não sabia o valor.
Saiu, esqueceu de fechar a porta, e foi aonde morava.
A luz da sala estava ligada, e ele conseguia - ou ao menos achava - que ouvia o barulho da televisão.
- VIVIANE, VIVIANE - ele gritou umas três vezes até ouvir a chave girar. Se escondeu atras de um carro estacionado por perto.
A mulher saiu e ele se levantou, ela estava de camisola, e, antes que pudesse vê-lo, ele viu que alguém a seguia. Era um homem, o filho da puta que ele tinha dito aos senhores do bar.
Ele viu uma pedra ao lado do pé, das grandes. Pensou em tacá-la na cabeça do sujeito, ou em outro lugar... Mas demorou muito, e os dois já estavam pra dentro.
Aos tropeços o homem chegou na casa da mãe, junto com o sol que ia nascendo. Entro quieto, não sabia o que estava fazendo, mas achava que sim.
Pegou a agenda que a mãe costumava anotar os telefones, e escreveu: "Eu te amo" aquilo era meio geral, pra sua mãe, pra viviane, e até pros homens do bar.
foi a garagem. Pegou a corda que costumava fazer seus balanços, em vão tentou colocá-la no pescoço, mas ele não sabia como se matar assim... Era covarde. E tinha memória fraca, o que vira nos filmes... Ih, já nem lembrava.
Ele voltou a casa e pegou a chave do carro, abriu-o e ligou. Abaixou o vidro e colocou ali seu pesoço. Apertou o botão pra subir.
E aquela foi a pior e a melhor sensação de sua vida. Ele não tinha mais preocupações, viviane... Mas ele também perdera tudo. Estava morto.
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