Eu vou à um café, mais uma vez sozinho. E daí?! Quem se importa?!
Me olham torto, e eu me esquivo, cansei de ser colocado em um telão em frente a sociedade.
- O que o senhor quer?
- Um mocha, por favor.
- Mais alguma coisa?
- O jornal de hoje também.
Eu não precisava ter pedido, era questão de três ou quatro passos até onde estava, mas já que a moça se ofereceu...
É deprimente, até eu chegar ao caderno cultural ou a página esportiva é só desgraça. Um morre esfaquiado, o outro leva três tiros na cabeça, e um terceiro - infeliz desgraçado - se mata.
O que me aboba é a criatividade...
Tem gente que não basta se jogar do prédio, precisa se jogar de uma ponte e morrer afogado, ou pular comprido e cair no meio da rua, pra que, caso não morra na queda, um carro o esmague em três.
Ler sobre futebol é outra coisa, a minha sorte é que nem nervoso me dá, meu time tá longe da primeira divisão. Sempre que vejo o flamengo em baixa, lembro do Marquinhos - flamenguista roxo ( ou seria "vermelho e preto"?) - dizendo "time grande não cai..."
"Despenca meu amigo, despenca" eu completaria.
- O mocha - ela sorri e me dá uma piscadela ao sair.
Termino meu jornal e meu café. Espero as mesas vagarem e só sobrar a garçonete que me atendeu, ela está atrás do balcão com um pano, secando as mãos.
- Olá - ela se desvencilha do pano atrapalhadamente.
- Oi - passa as mãos no cabelo, deixando um vestígio de alguma coisa que estava presa ao seus dedos, ali.
- Licença - eu digo tirando e ela ruboriza. - Tem planos pra agora?
- Meu turno vai até as onze. Depois nada.
- Errado. Depois nós vamos ao meu apartamento.- Ela sorri
Eu a espero, mexo em alguns CD's e folheio revistas.
- Estou pronta.
Nós vamos até meu prédio, eu me bato com as chaves, o corredor cheira a mofo, assim como o resto da cidade, por isso não me envergonho.
Eu abro a porta... E... Bem... Agora vocês vão me dar licença que a noite é longa.
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