- Eu não gosto de gente.
- Você é gay?
- Eu não disse que não gosto de mulher, é uma coisa geral.
- Tem louco pra tudo... Gosta do que então?
- De música.
- E quem faz as músicas?
- Gosto de filmes também.
- E quem os faz?
- Mas eu não ligo. Eu gosto das coisas por si, e não por quem as fez, que as faz e quem as fará.
- Impossível.
- Eu quero fazer músicas e filmes.
- Porque?
- É muita hipocrisia eu só gostar de mim.
- Você gosta de você?
- Sim.
- Mas você não gosta de gente.
- Sim.
- E...
- Por isso hipocrisia, eu chego a me enganar.
- E porque fazer filmes?
- Não gosto de quem faz filmes, não gostaria de mim.
- Mas você não gosta de gente - em um plano geral - e gosta de você. Vai ser igual com os cineastas.
- Não.
- Como você sabe?
- Eu não sei. Mas eu quero fazer filmes.
- Faça.
- Não é fácil. Eu preciso de uma história.
- É, é verdade. Pensa em alguma?
- Não.
- Mas afinal, porque não gosta de quem faz os filmes?
- Também não gosto de quem faz as músicas.
- Sim, porque?
- Você gosta?
- Sim.
- Eles estragam as histórias originais, eles iludem, eles cortam, eles magoam, eles mentem.
- E você quer isso?
- Quero não gostar de gente. Em um plano geral.
- Faça filmes.
- Eu quero.
- Eu sei.
- É difícil, preciso de uma história.
- Eu lhe faço uma.
- Ela é boa?
- Muito.
- Que bom! É mais fácil de estragá-la.
- Porque estragá-la?
- Para ser igual aos outros, pra me odiar.
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